A cefaléia, ou dor de cabeça, é uma das queixas mais comuns nos atendimentos médicos seja em ambulatórios ou em emergências nos pacientes mais graves. Nesse sentido, apesar de estar eventualmente relacionada com patologias de base, como nas cefaléias secundárias, a maioria dos quadros envolve uma predisposição do paciente ao desenvolvimento do sintoma sem explicações claras e, portanto, classifica-se como cefaléia primária.
O que são as cefaléias primárias?
Diferentemente das cefaléias secundárias, nas quais a queixa é justificada por alteração neurológica identificável, as do tipo primárias não possuem quaisquer achados estruturais, neuroquímicos e neurofisiológicos que justifiquem o desenvolvimento do sintoma. Sendo assim, costumam estar presentes na rotina médica principalmente na população até a 5° década de vida.
Epidemiologia
Como mencionado anteriormente, a cefaléia é uma das queixas mais comumente relatadas pelos pacientes, uma vez que pelo menos 90% da população mundial já apresentou pelo menos 1 episódio de cefaléia, principalmente do tipo-tensão ou enxaqueca. Nesse sentido, sabe-se também que a população feminina é mais acometida por episódios intensos, uma vez que 75% das mulheres possuem essas queixas, enquanto que apenas 55% dos homens relatam o sintoma.
{{banner-cta-blog}}
Quais os tipos de cefaleia primária?
Dentre os diversos tipos de cefaléia primária, existem três que merecem destaque devido a sua prevalência na população, mas também pela alta intensidade dos sintomas como na cefaléia em salvas.
Cefaléia tipo-tensão
A cefaléia tipo-tensão é uma condição muito comum e diretamente relacionada com o estresse sofrido pelo paciente, ou seja, costuma haver uma piora do quadro ao final do dia
Enxaqueca ou Migrânea
A enxaqueca pode estar associada a sintomas, como náuseas e fotofobia, além de ter um padrão de localização da dor distinto da tipo-tensão, bem como não está normalmente relacionada com estresse.
Cefaléia em salvas
É o subtipo mais comum dentre as cefaléias trigêmino-autonômicas e costuma ser confundida com cefaléia por causa ameaçadora à vida.
Quais os sintomas das cefaléias primárias e como fazer o seu diagnóstico diferencial?
Para a identificação do tipo de cefaléia primária presente nas queixas do paciente, faz-se necessário uma anamnese que questione o início dessa dor, qual a localização da cabeça, como é a dor (se pulsátil, se furando, se apertando), se houve melhora com uso de medicamentos, se há sintomas associados, entre outros. Segue abaixo uma tabela que exemplifica claramente esses fatores e permite melhor identificação.
Quando investigar cefaléia secundária?
Apesar das cefaléia primárias serem bem mais prevalentes, é de extrema importância saber diferenciar de uma cefaléia que pode estar associada com uma patologia de base grave e com risco de vida, isto é, uma cefaléia secundária.
Para isso, é imprescindível a investigação dos sinais de alarme (“Red Flags”) em todos os pacientes com cefaléia, pois se presentes indicam a possibilidade de cefaléia secundária com necessidade de melhor investigação.
- Dor de início súbito, de forte intensidade
- “Pior dor da vida”
- Mudança de padrão de uma cefaléia já existente
- Extremos de idade
- Sinais e sintomas sistêmicos
- Imunodeficiência história de neoplasia prévia
- Início da cefaléia associada à síncope, atividade sexual e manobra de Valsalva
- Dor ocular
- Déficits neurológicos focais
{{banner-cta-blog}}
Métodos diagnósticos para cefaléia primária
O diagnóstico de cefaléia primária é exclusivamente clínico, ou seja, por meio da anamnese bem feita associado a exame físico neurológico que não identifica alterações possíveis de acometimentos estruturais, deve ser possível identificar o tipo de cefaléia primária e iniciar o manejo terapêutico.
Contudo, naqueles pacientes com suspeita de cefaléia secundária pela presença dos sinais de alarme, a realização de neuroimagem para visualização de sangramentos (preferível pela Tomografia Computadorizada) ou alterações estruturais (Ressonância Magnética) pode ser necessária.
Como é feito o tratamento?
Tanto na migrânea como na cefaléia tipo-tensão, o tratamento medicamentoso deve ser preferencialmente realizado com os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE), como acetaminofeno, ibuprofeno e diclofenaco. Inicialmente, sua administração pode ser via oral, mas em casos de enxaqueca moderada-grave pode ser necessária a via parenteral.
Somado a isso, para a cefaléia tensional, é de suma importância a identificação do fator estressor para que a etiologia base possa ser resolvida. Já para a cefaléia em salvas, a inalação de 02 puro (5-10L/min) com máscara promove a rápida remissão dos sintomas, podendo associar com os triptanos, a exemplo do sumatriptano intravenoso.
Conclusão
Cefaléia é um sintoma clínico que pode estar relacionado com diversas patologias ou apenas como uma manifestação primária do Sistema Nervoso Central e, por isso, faz parte da rotina de atendimentos médicos. Dessa maneira, o seu profundo conhecimento sobre as cefaléias primárias é extremamente importante para a identificação de possíveis condições graves associadas e seu manejo.
Continue aprendendo:
- Estudos mostram que a nutrição com baixo teor de carboidratos pode ser profilática para a enxaqueca
- Erenumabe: Profilaxia de Enxaqueca com ou sem Aura
- A dor de cabeça é mais comum na adolescência, aponta estudo
FONTES:
- Evaluation of headache in adults - UpToDate
- Tension-type headache in adults: Acute treatment - UpToDate
- Martins MDA, Carrilho FJ, Alves VAF, Castilho E. Clínica Médica, Volume 6: Doenças dos Olhos, Doenças dos Ouvidos, Nariz e Garganta, Neurologia, Transtornos Mentais. (2nd edição). Editora Manole; 2016
+400 de aulas de medicina para assistir totalmente de graça
Todas as aulas são lideradas por autoridades em medicina.