Ginecologia e Obstetrícia
Ginecologia e Obstetrícia

Síndrome geniturinária da menopausa: fisiopatologia, quadro clínico e tratamento

Logo Medclub
Equipe medclub
Publicado em
30/1/2024
 · 
Atualizado em
30/1/2024
Índice

No ano de 2014, a Sociedade Internacional para o Estudo da Saúde Sexual da Mulher e a Sociedade Norte-Americana de Menopausa introduziram o termo de síndrome geniturinária da menopausa (SGM) para agregar todos os sintomas atróficos que podem surgir nas áreas vulvovaginal e bexiga-uretral, devido à baixa de estrogênio associada à menopausa. 

Representação dos níveis de estrogênio na mulher ao longo dos anos. Fonte: Brasil Escola
Representação dos níveis de estrogênio na mulher ao longo dos anos. Fonte: Brasil Escola

Estima-se que até 70% das mulheres que experimentam sintomas de atrofia vaginal decidem por não abordar sua condição com um profissional da saúde. Muitas acreditam que os sintomas são uma parte inerente e necessária do processo de envelhecimento. Ainda, fatores culturais, religiosos e sociais também exercem influência ao criar um ambiente em que as mulheres se sintam desconfortáveis ao discutir estas preocupações. 

O que é a síndrome geniturinária da menopausa?

A síndrome geniturinária da menopausa é caracterizada pela secura, inflamação e afinamento do revestimento epitelial da vagina e do trato urinário inferior devido à redução dos níveis de estrogênio. Apesar de ser mais comum em mulheres na menopausa, a atrofia do epitélio vaginal pode ocorrer em mulheres de qualquer faixa etária que experimentem uma diminuição na estimulação estrogênica dos tecidos urogenitais. 

Comparação entre a vagina saudável e atrófica. Fonte: Fertilidade.org
Comparação entre a vagina saudável e atrófica. Fonte: Fertilidade.org

Nas mulheres pré-menopáusicas, os estados hipoestrogênicos incluem o período pós-parto, lactação, amenorreia hipotalâmica e o uso de medicamentos antiestrogênicos.

A incidência de secura vaginal em diferentes faixas etárias foi delineada de maneira mais abrangente em um estudo longitudinal, onde o sintoma foi mencionado por 3% das mulheres em idade reprodutiva, 4% das mulheres em transição precoce para a menopausa, 21% das mulheres nos estágios finais da transição para a menopausa e 47% das mulheres três anos após a menopausa

{{banner-cta-blog}}

Fatores de Risco

A atrofia urogenital é predominantemente observada em mulheres durante a fase peri ou pós-menopausa. Condições ou medicamentos que provocam um estado hipoestrogênico, seja de forma transitória ou crônica, também podem desencadear alterações atróficas na vagina. As causas da atrofia urogenital englobam:

  • Menopausa natural
  • Remoção cirúrgica dos ovários (ooforectomia bilateral)
  • Insuficiência ovariana prematura de origem espontânea
  • Insuficiência ovariana resultante de tratamentos como radioterapia, quimioterapia, ou como consequência adversa da embolização da artéria uterina, podendo ser de natureza temporária ou permanente
  • Uso pré-menopáusico de medicamentos com efeitos antiestrogênicos, como tamoxifeno, danazol, acetato de medroxiprogesterona, agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas (por exemplo, leuprolida, nafarelina, goserelina) ou antagonistas (por exemplo, ganirelix)
  • Redução na produção de estrogênio após o parto, especialmente durante a lactação
  • Aumento da prolactina devido a distúrbios hipotálamo-hipofisários, resultando em uma diminuição secundária da secreção de estrogênio pelos ovários
  • Amenorreia hipotalâmica ou amenorréia associada a condições graves como lúpus eritematoso sistêmico ou artrite reumatoide (devido a hipogonadismo hipotalâmico ou insuficiência ovariana primária), combinada com terapia com glicocorticóides. A supressão simultânea da atividade ovariana e adrenal, pela perda de androstenediona adrenal, reduz o estradiol sintetizado por meio da aromatização extra ovariana, levando a níveis extremamente baixos de estradiol

Além das reduzidas concentrações de estrogênio, diversos fatores podem influenciar o grau de atrofia urogenital. A interrupção da atividade sexual, a nuliparidade vaginal e procedimentos cirúrgicos na região podem intensificar os sintomas. 

O hábito de fumar induz a uma deficiência relativa de estrogênio e pode comprometer a irrigação sanguínea na vagina. A abstinência de atividade sexual pode agravar as mudanças atróficas, enquanto a prática sexual contribui para a preservação do epitélio vaginal, potencialmente aumentando o fluxo sanguíneo e a elasticidade dos tecidos.

Fisiopatologia 

A atrofia urogenital resulta da redução nas concentrações séricas de estrogênio, predominantemente estradiol, nas mulheres na pré-menopausa. O estradiol exerce influência nas estruturas urogenitais, incluindo vagina, vulva, uretra e trígono da bexiga, mantendo a integridade do epitélio, promovendo a umidade das superfícies epiteliais e sustentando o fluxo sanguíneo genital ideal

Durante os anos reprodutivos, a estimulação estrogênica resulta em um epitélio vaginal espesso, rugoso e rico em glicogênio. A menopausa provoca uma acentuada queda nas concentrações de estradiol, levando a alterações adversas na atrofia vaginal ao longo do tempo.

Essas alterações incluem o adelgaçamento do epitélio, perda de elasticidade, aumento do tecido conjuntivo, encurtamento e estreitamento vaginal, redução das secreções e aumento do pH

O estado hipoestrogênico torna o epitélio mais suscetível a traumas, propenso a sangramentos e ulcerações, e aumenta o risco de infecções. A atrofia urogenital também afeta o trato urinário, contribuindo para desconforto, frequência urinária, hematúria, disúria e maior propensão a infecções urinárias.

Quadro clínico da síndrome geniturinária da menopausa

Os sintomas da atrofia urogenital são progressivos e tendem a piorar ao longo do tempo, à medida que o hipoestrogenismo persiste. Na transição para a menopausa, a diminuição da lubrificação vaginal pode ser um dos primeiros sinais de insuficiência estrogênica. Outros sintomas comuns são:

  • Corrimento vaginal (leucorréia ou amarelo e fétido)
  • Diminuição da lubrificação vaginal durante a atividade sexual
  • Dispareunia, incluindo dor vulvar ou vaginal (no intróito ou dentro da vagina)
  • Ardor ou irritação vaginal
  • Sangramento vulvar ou vaginal (por exemplo, sangramento pós-coito, fissuras)
  • Pressão pélvica ou protuberância vaginal
  • Sintomas do trato urinário (por exemplo, frequência urinária, disúria, desconforto uretral, hematúria)

Conforme o estado hipoestrogênico se torna crônico, podem surgir outros sintomas, incluindo sensação de secura vaginal durante as atividades diárias, não apenas durante o sexo.

Diagnóstico 

O diagnóstico da atrofia urogenital é predominantemente clínico, baseando-se em sintomas característicos e achados do histórico e exame físico. Embora exames laboratoriais estejam disponíveis para confirmar a deficiência estrogênica, geralmente não são necessários. 

A obtenção de uma história detalhada é crucial, explorando a presença de sintomas, história menstrual, medicações, intervenções prévias e revisão completa dos sistemas. O exame pélvico revela características como escassos pelos pubianos, diminuição da elasticidade e turgor da pele vulvar, estreitamento do introito ou diminuição da umidade e fusão ou reabsorção dos pequenos lábios

Avaliações laboratoriais, como o pH vaginal, índice de maturação e exame microscópico, podem apoiar o diagnóstico clínico, enquanto exames adicionais, como níveis hormonais séricos e ultrassonografia do revestimento uterino, são solicitados em circunstâncias específicas para excluir outras etiologias.

O pH de uma vagina estrogenizada varia de 3,5 a 5,0. O pH vaginal pode atingir níveis de 5,5 a 6,8 ou superiores em mulheres na pós-menopausa, especialmente aquelas que não estão em terapia com estrogênio. Os achados na citologia cervical em mulheres com vaginite atrófica podem imitar aqueles observados em mulheres com lesões intraepiteliais escamosas e podem até ser confundidos com câncer.

Uma faixa endometrial fina, medindo menos de 4 a 5 mm na ultrassonografia transvaginal sugere um estado hipoestrogênico e apoia o diagnóstico clínico de atrofia vaginal. No entanto, este teste é caro e não deve ser solicitado com o único propósito de confirmar atrofia urogenital.

{{banner-cta-blog}}

Como é feito o tratamento da síndrome geniturinária da menopausa?

A principal indicação para o tratamento da atrofia urogenital é a presença de sintomas que causam sofrimento em uma mulher hipoestrogênica devido à menopausa ou outras causas.

Antes de iniciar o tratamento é crucial excluir outras condições. Mulheres com sangramento pós-menopausa devem passar por avaliação para hiperplasia ou câncer endometrial. Aquelas com sintomas do trato urinário devem ser investigadas quanto a infecção urinária ou outras condições, como cistite intersticial ou malignidade do trato urinário, conforme necessário.

Como terapia de primeira linha para sintomas de atrofia vaginal, sugerimos o uso regular de agentes hidratantes vaginais complementados por lubrificantes à base de água durante a relação sexual vaginal, em vez do tratamento com agentes hormonais. 

Para a maioria das mulheres com atrofia vulvovaginal sintomática que não melhoram com lubrificantes e hidratantes vaginais e que são candidatas à terapia hormonal, sugerimos terapia com estrogênio vaginal em baixas doses, em vez de dehidroepiandrosterona vaginal.

A dosagem duas vezes por semana é provavelmente mais fácil para a maioria das pacientes. Para mulheres sem fortes contra indicações à terapia com estrogênio, mas que valorizam mais evitar o estrogênio do que a conveniência da dosagem, a dehidroepiandrosterona vaginal é uma opção razoável. É recomendado doses baixas de estrogênio vaginal em vez de terapia sistêmica com estrogênio.

A escolha do sistema de administração para a terapia com estrogênio vaginal (inserção, anel, creme) depende da preferência da paciente, sendo todos igualmente eficazes. O anel e a inserção de estradiol de 10 mcg oferecem opções de doses mais baixas para a terapia com estrogênio vaginal. 

Para mulheres tratadas com anel vaginal de estrogênio em dose baixa (7,5 mcg/dia) ou inserção (10 mcg duas a quatro vezes por semana) ou uma minidose de creme de estrogênio conjugado (0,25 g duas vezes por semana), não é rotineiramente necessário adicionar progestógeno para prevenir neoplasia endometrial. 

No entanto, para mulheres que recebem doses mais altas de creme de estrogênio conjugado (>0,25 g duas vezes por semana) ou qualquer dose de creme de estradiol, é sugerido o tratamento com progestágeno. Ospemifeno é uma alternativa para mulheres com atrofia vulvovaginal sintomática que não se beneficiam da terapia não farmacológica. 

No tratamento de mulheres com câncer de mama, a terapia de primeira linha inclui opções não hormonais, como lubrificantes e hidratantes. O uso de terapia vaginal com estrogênio ou prasterona deve ser evitado em mulheres que fazem uso de inibidores da aromatase para câncer de mama.

Conclusão 

A atrofia urogenital representa um desafio significativo para a qualidade de vida das mulheres na menopausa, afetando não apenas a esfera física, mas também a emocional e a sexual. A compreensão dos sintomas, diagnóstico adequado e opções terapêuticas são fundamentais para mitigar o impacto negativo dessa condição. Além disso, a individualização do tratamento, considerando as preferências da paciente e fatores de risco, contribui para uma abordagem mais abrangente e personalizada. 

Continue aprendendo:

FONTES:

Assine o medclub e tenha acesso a um mundo de informações médicas

Aproveite por 30 dias gratuitamente e após esse período pague apenas R$29,90 por mês.

Artigo escrito por

Comece agora e tenha acesso a um mundo de informações médicas

Aproveite por 30 dias gratuitamente e após esse período pague apenas R$29,90 por mês.

Dúvidas?

O que é o MedClub?

O medclub é uma plataforma 100% online e responsiva focada no desenvolvimento e capacitação profissional dos médicos. Com videoaulas e materiais de apoio de alta qualidade, o médico é alavancado em uma dinâmica simples, clara e objetiva de atualização e aprimoramento dos conhecimentos essenciais à sua prática.

Como o MedClub pode me beneficiar?

O Medclub te proporciona a aplicabilidade prática da Medicina Baseada em Evidências, elevando o padrão da sua prática médica. Tudo isso em um só lugar, sem perda de tempo, com informações claras e fáceis de achar no dia a dia.

O MedClub beneficia médicos de diferentes níveis de experiência?

Sim! O MedClub foi cuidadosamente concebido e desenvolvido com o objetivo de simplificar o estudo e a atualização médica, proporcionando maior segurança nas práticas e procedimentos. Nossa plataforma visa melhorar os resultados diários dos médicos, abordando as principais preocupações independentemente do estágio de sua carreira.

Existe um prazo de garantia?

Com certeza! No MedClub, estamos comprometidos com você. Por isso, disponibilizamos 30 dias corridos gratuitos antes de qualquer pagamento ser debitado em sua conta, garantindo que sua assinatura entre em vigor apenas quando você estiver pronto.

Como faço para cancelar minha assinatura?

Ao iniciar sua assinatura no MedClub, você terá a flexibilidade de cancelá-la a qualquer momento diretamente na plataforma, podendo também cancelar entrando em contato com nossa equipe de suporte ou enviando um e-mail para contato@med.club.

Nós utilizamos cookies. Ao navegar no site estará consentindo a sua utilização. Saiba mais sobre o uso de cookies.