Pediatria

Pneumonia na Pediatria: causas, sintomas e tratamento

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Equipe med.club
Atualizado em:
20/3/2023
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Por: Beatriz Lages Zolin

A pneumonia é uma das principais causas de mortalidade na faixa pediátrica, sendo de grande risco para pacientes menores de 5 anos, desnutridos, com vacinação incompleta, que tiveram baixo peso ao nascer, não tiveram aleitamento materno exclusivo ou possuem condição socioeconômica baixa.

É muito comum que crianças adquiram infecções respiratórias, chegando a 6 episódios por ano, e cerca de 2-3% delas evoluem para o parênquima pulmonar. Sendo assim, é necessário se atentar para o correto manejo desses quadros, pois é uma doença cuja mortalidade continua elevada no mundo.

Conceitos iniciais

A pneumonia na Pediatria é definida pela inflamação aguda do parênquima pulmonar, na grande maioria das vezes sendo causada por infecções. É dividida em Pneumonia Adquirida em Comunidade (PAC) e pneumonia nosocomial (hospitalar), a fim de diferenciar os possíveis agentes etiológicos e, de acordo com isso, seu manejo.

Para determinar uma PAC, é necessário que o indivíduo infectado não tenha tido hospitalizações nos últimos 30 dias ou estado internado em até 48h (tempo que se espera que não tenha tido contato ainda com os patógenos hospitalares a ponto de gerar quadro clínico).

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Sintomas da pneumonia em crianças e etiologias

O diagnóstico da pneumonia na Pediatria é realizado clinicamente, quando há presença de taquipneia, tosse e febre. Sabendo que os valores de corte para taquipneia diferenciam-se com a faixa etária, observe a tabela abaixo:

Valores de corte da taquipneia
< 2 meses FR 60 irpm
2 a 11 meses FR > 50 irpm
1 a 4 anos FR > 40 irpm
> 5 anos FR > 20 irpm
Tabela com os valores de corte da taquipneia na faixa pediátrica. Fonte: reprodução EMR / Beatriz Lages Zolin

Vale lembrar que na maioria das crianças pequenas a ausculta respiratória encontra-se normal, mas a sibilância pode estar presente em infecções virais graves ou por Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae.

Sinais de alarme

Os sinais de alarme indicam os pacientes graves acometidos pela pneumonia na pediatria e são os seguintes.

Sinais de alarme em menores de 2 meses:

  • FR > 60 irpm 
  • Tiragem subcostal
  • Febre alta
  • Recusa de amamentação
  • Sibilância
  • Estridor em repouso
  • Letargia ou irritabilidade

Sinais de alarme em maiores de 2 meses:

  • Tiragem subcostal
  • Recusa de líquidos
  • Estridor em repouso
  • Vômitos após todas as refeições
  • Convulsão
  • Letargia ou irritabilidade

O curso clínico da pneumonia na pediatria costuma ser semelhante para os diversos agentes etiológicos, mas a maioria dos casos são por vírus (90% até 1 ano de idade, 50% em escolares), tendo evolução não complicada, em que o tratamento pode ser realizado ambulatorialmente. O principal causador de pneumonia em crianças é o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), mas outros também bastante comuns são o influenza, parainfluenza e rinovírus.

Suspeitamos de etiologia bacteriana quando há algum sinal de alarme ou complicações como derrames pleurais, abscessos, pneumatoceles e consolidação alveolar. Também é mais característico da pneumonia bacteriana marcadores inflamatórios elevados, como o PCR > 40mg e a procalcitonina >0,75 ng/ml.

O principal agente bacteriano da pneumonia em crianças é o pneumococo (Streptococcus pneumoniae), mas também é comum a infecção por Haemophilus influenzae. A pneumonia estafilocócica (Staphylococcus aureus) pode ser associada com piodermites e costuma gerar quadros graves, inclusive com empiema pulmonar.

RN até 3 dias Estreptococo do grupo B, Bacilos Gram negativos, Listeria monocytogenis
RN de 3 a 28 dias Stafilococcus aureus, Stafilococcus epidermidis, Gram negativos
1 a 3 meses Vírus, Chlamydia, trachomatis, Ureaplasma urealycticum, Streptococcus pneumonaiae, Stafilococcus aureus
4 meses a 5 anos Vírus, S. pneumoniae, S. aureus, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae
Acima de 5 anos S. pneumoniae, S. aureus, M. pneumoniae, C. pneumoniae
Etiologias de PAC por faixa etária. Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria. Programa de Atualização em Terapêutica Pediátrica, 2016.

Pneumonias atípicas

A infecção por Chlamydia trachomatis pode ocorrer em bebês que se contaminaram no parto natural, de mães com vulvovaginite, sendo característico uma pneumonia afebril, em que o lactente pode ter história de conjuntivite. Já em crianças maiores, a pneumonia afebril pode ser encontrada nos casos de infecção por Mycoplasma pneumoniae.

Há diversas complicações possíveis, listadas abaixo:

  • Abscesso pulmonar
  • Derrame pleural
  • Atelectasia
  • Pneumotórax
  • Pneumatocele
  • Pneumonia necrotizante
  • Fístula broncopleural
  • Hemoptise
  • Bronquiectasia
  • Infecções em outros sistemas (conjuntivite, otite média, sinusite, meningite e osteomielite)
  • Sepse 

Diagnóstico

Como o diagnóstico da pneumonia na Pediatria é clínico, solicitamos exames complementares apenas em casos específicos e na maioria das vezes é possível realizar o tratamento ambulatorial, com reavaliação após 2 ou 3 dias. Os casos que demandam internação são os seguintes:

Critérios para internação hospitalar:

  • Menores de 2 meses
  • Falha na terapêutica ambulatorial
  • Problemas sociais
  • Hipoxemia 
  • Desnutrição grave
  • Presença de comorbidades associadas
  • Estridor em repouso
  • Convulsão
  • Sonolência excessiva
  • Recusa de ingestão hídrica
  • Vômitos incoercíveis
  • Complicações: derrame pleural, pneumatocele, abscesso pulmonar

A radiografia de tórax deve ser solicitada em casos de dúvida diagnóstica, falha terapêutica e para pacientes hospitalizados. O hemograma pode certificar a presença de uma infecção aguda, pois costuma demonstrar leucocitose e neutrofilia. 

Deixamos o diagnóstico etiológico reservado para casos graves, em que é necessário saber exatamente o agente causador para tratar com maior especificidade. Para isso, é crucial solicitar hemoculturas, mesmo que possuam sensibilidade baixa para a PAC. Pode também ser solicitado o RT-PCR e a cultura do líquido pleural (nos casos de derrame, que necessitam de punção).

A pesquisa etiológica com métodos invasivos (broncoscopia, lavado broncoalveolar e biópsia pulmonar) deve ser feita apenas em casos de evolução desfavorável.

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Tratamento

O tratamento em casos não complicados pode ser feito ambulatorialmente, com amoxicilina 50mg/kg/dia de 8 em 8h por 7 dias, além de orientar hidratação e nutrição adequada e uso de medicações sintomáticas (dipirona como antitérmico). No entanto, para todos os menores de 2 meses, a hospitalização por pneumonia na Pediatria é indicada, utilizando-se de ampicilina e gentamicina.

Se houver evidência de pneumonia estafilocócica, associar ceftriaxona com oxacilina, e nos casos de suspeita de clamídia, utilizar eritromicina.

Como prevenir?

As vacinas são a melhor prevenção contra uma pneumonia grave e temos disponível a pneumo-10-valente (contra pneumococos) no sistema único de saúde e pneumo-23-valente no sistema privado, além da vacina para H. influenzae.

Conclusão

A pneumonia na Pediatria é definida por inflamação no parênquima pulmonar e é uma grande causa de mortalidade em crianças, principalmente as menores de 5 anos. O diagnóstico é clínico, quando há presença de taquipneia, tosse e alguns outros sinais e sintomas. O tratamento depende da gravidade do paciente, podendo ser feito em casa ou sob internação hospitalar, com uso de antibioticoterapia empírica inicialmente.

Continue aprendendo:

FONTES:

  • Tratado de Pediatria 4ª edição 2017
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