Com o início da idade moderna e os avanços tanto tecnológicos como socioculturais, o ser humano necessita cada vez mais se adaptar ao meio no qual está inserido para viver em sociedade. Contudo, isso o expõe a diversos fatores negativos para o seu desenvolvimento pessoal e oferece maior risco para desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como ansiedade e depressão. Porém, outras patologias relacionadas à alterações de humor podem se manifestar, dentre elas está o Transtorno Bipolar.
O que é o Transtorno Bipolar?
O transtorno bipolar ou bipolaridade é uma doença psiquiátrica definida como um transtorno de humor, isto é, há uma alternância entre momentos de mania completa, hipomania e/ou episódios depressivos maiores, podendo ainda ocorrer os estados mistos. Assim, torna-se uma patologia potencialmente danosa para o paciente do ponto de vista social, por afetar sua comunicação interpessoal, e também ocupacional.
Qual a sua epidemiologia?
A Bipolaridade pode ser uma doença subdiagnosticada, tendo em vista a dificuldade de identificação de sintomas de hipomania, por exemplo. Contudo, pesquisas afirmam que a incidência anual é de aproximadamente de 1%. Apesar disso, os transtornos de humor são comuns na população, uma vez que o transtorno depressivo maior tem a maior prevalência ao longo da vida, cerca de 17%.
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Quais os tipos de bipolaridade?
O Transtorno Bipolar pode ser dividido em 2 tipos de acordo com o grau de manifestação clínica e preenchimento de critérios diagnósticos:
Transtorno Bipolar tipo I
O tipo I é caracterizado por episódios de mania completos, com duração sintomática de no mínimo 1 semana (ou menos, no caso de internamento), que se alternam frequentemente com episódios depressivos maiores e/ou episódios de hipomania.
Transtorno Bipolar tipo II
O tipo II é caracterizado pela presença de episódios de hipomania, os quais duram minimamente 4 dias, na maior parte do dia, em alternância com sintomas depressivos maiores. Não há síndrome maníaca completa.
|
Bipolaridade Tipo I |
Bipolaridade Tipo II |
Episódios maníacos |
Sim |
Não |
Episódios hipomaníacos |
Comumente ocorre, mas não é necessário |
Sim |
Episódio depressivo maior |
Costumam ocorrer, mas não é necessário |
Sim |
Características mistas |
Pode ocorrer |
Pode ocorrer |
Angústia ansiosa |
Pode ocorrer |
Pode ocorrer |
Ciclicidade rápida |
Pode ocorrer |
Pode ocorrer |
Características psíquicas |
Pode ocorrer |
Pode ocorrer |
Catatonia |
Pode ocorrer |
Pode ocorrer |
Tabela demonstrando a presença dos principais sintomas psiquiátricos nos tipos de bipolaridade. Fonte: Bipolar disorder in adults: Clinical features - UpToDate Quais os sintomas de transtorno bipolar?
Como mencionado, o transtornos bipolar possui episódios de mania que se caracterizam por uma hiperatividade emocional anormal e persistente do paciente, ou seja, sinais de “ego hiperinflado”, redução de necessidade de sono, hiper comunicativo e/ou sensação de pensamentos muito acelerados são alguns dos sintomas comumente presentes.
Já para os sintomas depressivos maiores, sinais de desinteresse ou prazer e sensação de humor deprimido são queixas frequentes. Diante desse quadro, o paciente apresenta dificuldades sociais e ocupacionais de modo que seus sintomas repercutem em outros fatores de sua vida.
Como fazer o diagnóstico?
Para Bipolaridade, faz-se necessário a avaliação laboratorial para exclusão de hipertireoidismo, bem como análise de medicamentos em uso com possíveis efeitos estimulantes compatíveis com as manifestações clínicas.
Assim como a maioria das patologias psiquiátricas, o Transtorno Bipolar é diagnosticado a partir do preenchimento de critérios abordados pelo DSM-V, sendo estes divididos de acordo com o tipo de sintoma, ou seja, mania, hipomania e episódio depressivo maior:
Critérios para Episódio Maníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária) |
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual: 1. Autoestima inflada ou grandiosidade 2. Redução da necessidade de sono (exemplo: sente-se descansado com apenas três horas de sono) 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando 4. Fuga de ideias ou experiência de que os pensamentos estão acelerados 5. Distratibilidade (atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (atividade sem propósito não dirigida a objetivos) 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (exemplo: envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos) |
C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas |
D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (exemplo: droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica |
Fonte: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition Critérios para Episódio Hipomaníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de quatro dia consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias |
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual: 1. Autoestima inflada ou grandiosidade 2. Redução da necessidade de sono (exemplo: sente-se descansado com apenas três horas de sono) 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando 4. Fuga de ideias ou experiência de que os pensamentos estão acelerados 5. Distratibilidade (atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (atividade sem propósito não dirigida a objetivos) 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (exemplo: envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos) |
C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo quando assintomático |
D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas |
E. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco |
F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (exemplo: droga de abuso, medicamento, outro tratamento) |
Fonte: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition Critérios para Episódio Depressivo Maior
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (exemplo: sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita por outra pessoa (exemplo: parece choroso) 2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (exemplo: mudança de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou redução ou aumento no apetite, quase todos os dias. 4. Insônia ou hipersonia quase diária 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento) 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente) 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa) 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. |
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo |
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica |
Fonte: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition {{banner-cta-blog}}
Tratamento para transtorno bipolar
Devido à labilidade emocional presente nesses pacientes, o uso de estabilizadores de humor (ex: lítio, valproato de sódio, carbamazepina e lamotrigina) e antipsicóticos atípicos é a principal linha farmacológica, as quais por vezes costuma ser associada a antidepressivos, como aqueles pertencentes à classe dos Inibidores da Recaptação de Serotonina (ISRS). Contudo, tal associação deve ser individualizada para cada paciente e fase psíquica na qual se encontra, uma vez que alguns estabilizadores de humor podem ter maior eficácia que ISRS mesmo em fase depressiva.
O acompanhamento contínuo é crucial, já que os medicamentos utilizados devem ser frequentemente reavaliados e, se necessário, modificados. Importante destacar que a falha de um fármaco só pode ser configurada quando em uso de dose máxima por pelo menos 4 ou 5 semanas. A associação de farmacoterapia com psicoterapias se demonstrou eficaz na melhora do desfecho do paciente.
Conclusão
Apesar de ainda carecer de explicações mais concretas sobre a sua fisiopatologia, o Transtorno Bipolar já se demonstrou ser uma patologia potencialmente prejudicial para os pacientes e de difícil diagnóstico pela sintomatologia mais branda em alguns casos. Assim, a experiência médica é de extrema importância para o diagnóstico e o manejo da doença, possibilitando melhor controle da patologia e menores repercussões sociais para o paciente.
Continue aprendendo:
FONTES:
- Bipolar disorder in adults: Clinical features - UpToDate
- Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V)
- Compêndio de Psiquiatria, Kaplan&Sadock, 11° ed.
- Transtornos bipolares - MSD Manuals